Spray nasal à base de anestésico é aprovado nos EUA para tratar depressão
Durante anos, a cetamina tem sido prescrita off-label (utilização não indicada no rótulo) para pessoas com depressão severa e , com alguns pacientes experimentando em questão de horas. É importante apontar que esses são, normalmente, pacientes que não responderam bem a outros tratamentos. O spray nasal será aprovado para esse mesmo grupo seleto de pacientes.
“Existe uma necessidade de longa data por tratamentos efetivos extras para a depressão resistente a tratamento, uma condição séria e com risco de vida”, disse em um comunicado Tiffany Farchione, diretora interina da Divisão de Produtos Psiquiátricos do Centro de Avaliação e Pesquisa de Drogas, da FDA. “Ensaios clínicos controlados que estudaram a segurança e eficácia dessa droga, junto com uma revisão cuidadosa por meio do processo de aprovação de drogas da FDA, incluindo uma discussão robusta com nossos comitês consultivos externos, foram importantes para a nossa decisão de aprovar esse tratamento.”De acordo com a FDA, a esketamina da J&J será aprovada para pessoas com depressão resistente a tratamentos, ou seja, pessoas que não responderam a pelo menos dois outros medicamentos antidepressivos. O remédio precisará ser tomado junto com um antidepressivo padrão, e cada dose será aplicada sob supervisão médica rigorosa, com os pacientes sendo monitorados por pelo menos duas horas antes de poderem deixar a clínica.
A decisão da FDA vem na sequência de uma votação quase unânime de um comitê consultivo para aprovar o medicamento no mês passado. Embora a maioria dos especialistas tenha concordado que os benefícios da cetamina superavam qualquer risco potencial, efeitos colaterais de curta duração como desorientação, aumento da pressão arterial e dores de cabeça têm sido comumente encontrados.
Esses mesmos especialistas, mesmo aqueles que aprovaram a droga, também apontaram a falta de pesquisa sobre seus riscos a longo prazo como um tratamento da depressão, como, por exemplo, pacientes desenvolvendo um ou até dano cerebral — ambos vistos em usuários recreativos. E eles pediram pesquisas de longo prazo para manter o controle sobre novos pacientes usando cetamina e para observar esses riscos. Charney, que disse que não esteve envolvido no desenvolvimento clínico do Spravato pela J&J, acredita que é importante ficar atento aos riscos da cetamina. Mas ele apontou que as dosagens de cetamina normalmente dadas a pacientes com depressão são, geralmente, muito menores do que o que as pessoas tomam de forma recreativa. “É algo que pudemos observar durante uns dois anos já. E os clínicos com quem conversei e eu não vimos isso (acontecendo) com os pacientes”, afirmou. “Pelo menos até agora, o risco de abuso parece ser bem baixo.”