CEO da Uber diz que assassinato de jornalista por governo saudita é um erro que pode ser perdoado, mas depois volta atrás
O CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, está sendo alvo de críticas após ele ter defendido o governo saudita, um dos maiores investidores da Uber, em um programa de TV exibido nos EUA durante à noite de domingo (10). Khosrowshahi foi questionado sobre o assassinato e desmembramento do jornalista Jamal Khashoggi, do Washington Post, que a CIA acredita ter sido ordenado por autoridades sauditas. O executivo reduziu a importância do ocorrido, chamando o incidente de um “erro” e dizendo que até a Uber comete erros.
“Nós também falhamos, certo?”, disse Khosrowshahi aos jornalistas do . “Com os carros autônomos, nós paramos esses veículos e estamos nos recuperando do erro. Acho que as pessoas cometem erros. Não significa que elas nunca podem ser perdoadas. Acho que eles levaram isso a sério.”A Arábia Saudita, por meio do seu fundo soberano, é o quinto maior investidor da Uber. Yasir Al-Rumayyan, o responsável pelo fundo, está no conselho administrativo tanto da Uber como da Softbank. A defesa de Khosrowshahi da família real saudita invocou os próprios erros da empresa, incluindo o incidente de 2018, quando um carro autônomo atingiu e matou um pedestre em março de 2018. O NTSB, organização dos EUA responsável por investigar acidentes, liberou recentemente um relatório dizendo que o sistema da Uber “não considerava que pedestres atravessavam fora da faixa”.
Curiosamente, Khosrowshahi liberou um comunicado após a entrevista ao pessoal do Axios desaprovando o que ele disse anteriormente, possivelmente porque alguém no departamento de relações públicas da Uber percebeu que o executivo fez uma defesa da morte do jornalista do Washington Post e sabia que falar isso é bem sem noção.
“Disse algo naquele momento que não é o que acredito”, disse Khosrowshahi em um s. “Sobre Jamal Khashoggi, o assassinato dele foi repreensível e nunca deve ser esquecido ou alvo de desculpas [que justifiquem o ato].”
O CEO da Uber não foi ao evento chamado de “Davos no Deserto” neste ano, dizendo que teria uma reunião de conselho. Quando um repórter do Axios pressionou o CEO da Uber do fato de que ele poderia mudado a data, Khosrowshahi argumentou que as reuniões são marcadas com “anos de antecedência”.
O Vale do Silício é incrivelmente dependente do dinheiro da família real saudita, e, como sabemos, a Uber tem perdido bilhões de dólares todos os anos. Na semana passada, a empresa reportou uma perda de US$ 1,2 bilhão no último trimestre, algo que, de alguma forma, superou as expectativas de Wall Street.
A dependência da indústria da tecnologia do dinheiro saudita já levou algumas empresas a reprimirem discursos contra a nação. A Netflix, por exemplo, decidiu tirar do ar um episódio de “Patrioct Act com Hasan Minhaj”, que era muito crítico a MBS. No entanto, o episódio não era sobre MBS — Minhaj detalhou que muitas companhias, incluindo a Uber, dependiam de dinheiro saudita para sobreviver.
O CEO da Netflix, Reed Hastings, defendeu a decisão na semana passada de ter removido o episódio. “Não estamos no negócio de notícias. Não estamos tentando fazer ativismo. Estamos apenas tentando entreter”, disse Hastings. Você provavelmente vai ouvir um monte dessas defesas do regime saudita conforme a morte de Khashoggi se torna uma memória distante, pois é assim que as coisas funcionam. O Vale do Silício precisa de dinheiro, e quando uma companhia perde bilhões, não importa de onde ele vem. Pelo menos, neste caso, podemos agradecer os profissionais de relações públicas que sabiam com antecipação o que a audiência gostaria de ouvir. Matar um jornalista é objetivamente ruim. E é difícil definir como um “erro” um caso que envolve tortura, desmembramento e assassinato de uma pessoa.