O ano de 2011 foi de grandes mudanças para a cientista da computação Neide Sellin. Na época, a moça trabalhava como professora na Escola Municipal Clóvis Borges Miguel, no município de Serra, no Espírito Santo.
Em uma de suas aulas, Neide começou a conversar com uma de suas alunas que era deficiente visual. A professora quis ouvir as dificuldades que a menina enfrentava, visando projetar algo para auxiliá-la.
Foram das oficinas de robótica da escola que nasceu , uma espécie de cão guia robô hoje já disponível no mercado. A Inteligência Artificial da máquina permite que ela navegue de forma autônoma, detectando objetos no caminho e evitando colisões.
A reportagem do Giz Brasil foi conferir o funcionamento do dispositivo.
A Lysa pode funcionar tanto no modo automático quanto no manual. Nesta primeira opção, ela leva o usuário a espaços previamente mapeados. A escolha da rota pode ser feita através de um tablet ou smartphone conectado ao robô.
Já no modo manual, a Lysa caminha como um verdadeiro guia, apontando possíveis perigos no caminho e a presença de pessoas.
O robô guia é ideal para ser utilizado em locais fechados, já que não foi adaptada para a precariedade das ruas da cidade. Por conta disso, esse é considerado um modelo indoor.
Por outro lado, ela pode ser utilizada outdoor caso o usuário esteja em um ambiente com calçadas retas e estáveis.
Onde a Lysa é aplicada
Nathalia Fabro, coordenadora comercial da Lysa em São Paulo, conta que o robô foi testado na última edição da Campus Party, em 2022. Por lá, visitantes poderiam usar a Lysa para andar por uma exposição sobre personagem femininas da Turma da Mônica. A máquina não só guiava a pessoa pelo espaço como também descrevia as obras para o usuário.
Agora, visitantes do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, poderão utilizar a Lysa na exposição “Ianelli 100 anos: o artista essencial”, em cartaz até o dia 14 de maio.
Além disso, a Lysa também está disponível para uso no Aeroporto Internacional de Florianópolis Hercílio Luz e no Hospital Israelita Albert Einstein, onde é utilizada por um funcionário. A EEEM Professor Renato José Da Costa Pacheco, no Espírito Santo, também utiliza a ferramenta.
Pessoas físicas também podem adquirir o produto, embora seu preço seja bastante alto. Ter uma Lysa em casa custa cerca de R$ 23.800. Há também a opção de assinar o produto, pagando um valor mensal de aproximadamente R$ 1.800.
Experiência de quem utiliza
Raíza KL, psicóloga e influenciadora digital, é uma das pessoas que utiliza a Lysa em seu dia a dia. Ela está com o produto o robô há cinco meses e tem tido uma experiência positiva.
Segundo ela, as pessoas com deficiência visual enfrentam diariamente barreiras em termos de mobilidade e locomoção. Os ambientes, quase sempre precários em relação a acessibilidade, não são preparados para receber esse grupo de pessoas.
“São obstáculos aéreos indesejados, com os quais acabamos colidindo e nos machucando. Objetos espalhados pelo caminho, calçadas destruídas, esburacadas, e tantas outras barreiras arquitetônicas, que fazem com que nosso transitar pelos lugares se torne algo extremamente estressante e perigoso”, exemplifica.
Com a Lysa, capaz de detectar objetos e obstáculos, inclusive os aéreos, Raíza experimenta “uma sensação indescritível de segurança, liberdade e autonomia”.
Antes do auxílio do robô, Raíza utilizava a famosa bengala branca. Hoje, caminha com a Lysa não só em sua casa e consultório, mas em todos os lugares.
“Lembro de uma vez em que utilizei a Lysa em um shopping e foi o maior sucesso. As pessoas me paravam para saber mais sobre aquele robô que estava me conduzindo e queriam até tirar foto. Muito mais que uma tecnologia, a Lysa é uma companheira para o dia a dia, uma facilitadora de vidas”, completa a psicóloga.
Futuro do cão robô
A Lysa está em constante evolução. Agora, a startup tem planos de comercializar um cão guia robô com formato do animal, que poderia ser usado também em ambientes externos.
O novo maquinário, que já possui protótipos espalhados pelo globo, pode também subir e descer escadas, além de ficar exposto a água da chuva.
Mas há dificuldades técnicas no caminho. Os primeiros modelos foram construídos pela Xiaomi para serem utilizados em cenários de guerra. A fabricante, no entanto, não tem mais interesse em desenvolver o produto.
Agora, já há uma segunda empresa negociando com a startup brasileira para fabricar os cães guias robôs. A estimativa é de que até o final de 2023 o aparelho esteja disponível em larga escala. Todavia, ainda não foram divulgados valores.