Brasileiros com genes de neandertal são mais sensíveis à dor, diz estudo
Pessoas que carregam três variantes genéticas herdadas dos neandertais são mais sensíveis a alguns tipos de dor. A descoberta foi feita por um estudo liderado pela University College London, no Reino Unido, e publicado na revista .
Os resultados são as evidências mais recentes de como o cruzamento com genes de neandertal, no passado, influenciou a genética dos humanos modernos.
Entenda o contexto
Desde quando o primeiro genoma neandertal foi decodificado, há 15 anos, diversos estudos buscam compreender o que os humanos herdaram deles. Parte deles seguiu o caminho à procura da resposta para a sensibilidade à dor.
“Os genes são apenas um dos muitos fatores, incluindo o ambiente, a experiência anterior e fatores psicológicos, que influenciam a dor”, afirmou , autor do estudo.
Em geral, alguns neurônios sensoriais detectam sinais de tecido danificado. O gene SCN9A, dos neandertais, regula a liberação de sódio em níveis elevados justamente nestes neurônios.
Considerando essa informação, pesquisas anteriores identificaram três variações nesse gene, conhecidas como M932L, V991L e D1908G. Nestes estudos, já estava claro que pessoas que carregam essas variantes hoje em dia têm uma maior sensibilidade à dor.
Contudo, esta pesquisa não identificou quais os reflexos sensoriais afetados. Agora, o novo estudo encontrou essa resposta.
A nova pesquisa
Para isso, pesquisadores mediram os limites iniciais de dor de quase duas mil pessoas. A ideia era compreender qual o ponto que algo começava a causar dor no indivíduo, frente a diversos estímulos, como calor, pressão e picadas na pele.
Além disso, eles também analisaram a presença das variantes do SCN9A nos participantes. Os pesquisadores descobriram que a D1908G estava presente em cerca de 20% dos cromossomos dentro dessa população.
Destes cromossomos, aproximadamente 30% também carregavam as outras duas variantes, M932L e V991L.
Assim, associando as características genéticas e as respostas aos testes de dor, os autores do estudo concluíram que as três variantes estavam relacionadas a um limiar de dor mais baixo em resposta a picadas na pele. O mesmo não aconteceu em resposta ao calor ou à pressão.
Por fim, a pesquisa também identificou que pessoas que carregam as três variantes têm maior sensibilidade à dor do que aquelas que carregam apenas uma.
A herança neandertal nas Américas
Usando dados genéticos de mais de cinco mil pessoas do Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, os autores descobriram que as três variantes de neandertal são mais comuns em populações com maior ascendência americana.
Eles especulam que isso pode ser o resultado do acaso e de gargalos populacionais que ocorreram durante a ocupação inicial das Américas. Ainda assim, os cientistas alegam que precisam de mais pesquisas para entender por que isso acontece.
E, embora a dor aguda possa moderar o comportamento e prevenir ferimentos adicionais, eles querem entender se essas variantes genéticas específicas foram vantajosas evolutivamente.