Mudanças dramáticas de humor enquanto se ingere bebida alcoólica são normais, mas para algumas pessoas, a ingestão as conduz a um comportamento agressivo, desagradável e violento. Ao estudar exames de homens bêbados, cientistas australianos encontraram as partes do cérebro que são enfraquecidas quando bebemos, tornando essas pessoas mais maldosas que o normal. Mas como muitos aspectos da psicologia humana, é tudo muito mais complicado do que parece.
Nosso córtex pré-frontal — a parte do cérebro responsável pelo planejamento, personalidade e moderação do comportamento social — adormece quando bebemos álcool, segundo uma publicada nessa semana no periódico Cogntive, Affective & Behavioral Neuroscience.
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Essa não é a primeira vez que o córtex pré-frontal é envolvido em estudos sob a agressão causada por consumo de álcool. No entanto, cientistas da Universidade de New South Wales, que conduziram os estudos, produziram evidências empíricas tangíveis na forma de imagens de alta qualidade de ressonância magnética funcional do cérebro que reforçam essa concepção.
Aproximadamente de 35% a 66% dos l — essas infrações vão de assassinatos, violência domésticas a agressões físicas. De forma menos grave, a bebida nos torna um pouco mais maldosos que o normal, nosso senso crítico se torna mais incisivo, nossa raiva se torna mais palpável, e nossa tolerância para frustrações desaparece. Quando estamos bêbados atacamos as pessoas, e as pessoas bêbadas nos atacam de volta.
Por conta própria, no entanto, o álcool não nos torna violentos ou maldosos. O responsável por isso é a combinação de bebida com situações potencialmente hostis, indesejadas e tensas — soma-se a isso uma personalidade que tem “disposição a agressividade” (ou seja, um impulso para um comportamento violento). O álcool age como um lubrificante que facilita esta agressão subjacente. Este novo estudo foi um esforço de aprender mais sobre este “lubrificante”, onde ele está localizado no cérebro e como funciona.
Para o estudo, o pesquisador responsável Thomas Denson usou imagens de ressonâncias magnéticas funcionais para medir o fluxo sanguíneo no cérebro. Pesquisas anteriores tinham apontado o córtex pré-frontal como a área responsável pelo aumento da agressividade durante a bebedeira, no entanto Denson queria verificar o efeito em ação.
Como notado, o córtex pré-frontal é responsável pelo planejamento de comportamentos complexos, expressões de personalidade, tomadas de decisão e moderação de comportamento social. Essas tarefas constituem nossa “função executiva”, permitindo-nos discernir entre pensamentos conflitantes, distinção entre mau e bom, melhor e excelente, mesmo e diferente, e — mais importante — permite-nos compreender as consequências das nossas ações.
Embebedando as pessoas pela ciência
Evidências empíricas na forma de exames cerebrais estão em falta nessa área, que é exatamente o que o experimento de Denson tenta suprir. Para o estudo, sua equipe recrutou 50 homens jovens e saudáveis com idade entre 18 e 30, e nenhum deles sabia que álcool faria parte do estudo. Candidatos potenciais foram excluídos se eles tivessem tido problemas com álcool, tivessem problemas mentais, tomassem remédios que o álcool pudesse apresentar alguma reação, fossem avessos a álcool ou que não bebessem três ou mais vezes por mês.
Os participantes tomaram dois drinks contendo vodca ou um placebo sem álcool. Levemente bêbados, os participantes foram convidados a desempenhar uma tarefa competitiva que exigia rápido tempo de reação enquanto estavam no escâner de ressonância magnética — essa tarefa em específico tem sido usada por décadas por cientistas para medir o nível de agressão. Este jogo é super frustrante porque o vencedor de cada partida envia um som desagradável ao perdedor. Após um tempo, o jogo se torna algo retaliatório — especialmente ao considerar que o vencedor controla o volume. Neste estudo, no entanto, foi dito aos participantes que eles estavam competindo contra outros humanos — quando na verdade, eles estavam jogando contra dois computadores.
Enquanto isso estava acontecendo, os cientistas estavam ocupados escaneando os cérebros, prestando atenção na parte do jogo que os participantes decidem ser agressivos ou não em termos de retaliação. A equipe de Denson pode visualizar quais áreas do cérebros estavam ativas quando a tarefa foi realizada, e então compararam as diferenças entre as pessoas que beberam álcool com as que ingeriram o placebo.
Observando os exames, os participantes mostraram respostas neurais comuns quando estavam sendo provocados. Mas no momento que eles começam a agir de forma agressiva, os cientistas notaram uma mudança na atividade do córtex pré-frontal — apenas nos que consumiram álcool. Normalmente, nosso córtex pré-frontal freia nosso comportamento agressivo. Mas isso também acontece na parte do cérebro que dispara o gatilho da agressão. Às vezes, a presença do álcool bagunça esta delicada balança, mudando nossas faculdades de tomada de decisão para um comportamento violento.
Entendendo melhor teorias antigas
“As descobertas deste estudo corroboram as teorias sobre agressões relacionadas a álcool que propõem que o consumo de bebida afeta as estruturas do cérebro identificadas no estudo, especialmente o córtex pré-frontal”, disse Brian M. Quigley, um especialista da Universidade de Buffalo, que não estava envolvido no estudo. “O álcool afeta nossa tomada de decisão ao reduzir a atenção para indícios inibitórios, fazendo com que uma pessoa seja mais impulsiva ou imediatamente responsiva ao que está logo a sua frente — um processo conhecido como miopia alcoólica.”
Como exemplo, Quingley cita uma cena comum na qual uma pessoa bêbada acidentalmente esbarra em outra pessoa, e elas começam a se concentrar apenas nisso — o impulso indesejado. E antes de pensar em outros fatores, como ser expulso do local por seguranças ou ter de lidar com a polícia, elas respondem ao estímulo.
“O córtex pré-frontal é onde nós processamos informações inibitórias, então ter menos atividade nessa região quando bêbado e se engajar em comportamento agressivo faz todo sentido e se encaixa em nossos modelos de agressão por intoxicação”, disse.
De modo geral, Quigley gosta do novo estudo, mas diz que ele conta com algumas limitações. O estudo (por motivos éticos) excluiu pessoas com problemas com álcool, mas estes “geralmente são os maiores interessados no assunto porque os problemas com álcool geralmente são ligados a agressões”, afirmou. Isto é uma limitação, mas que não tira a validade do levantamento, segundo o especialista. Ele também disse que o teste de tempo de reação de agressão é uma forma limitada de medir a agressividade, como alguns pesquisadores (incluindo ele próprio) questionam se os participantes querem mesmo causar dano a outra pessoa no jogo.
O pesquisador também ressalta que não são todas as pessoas que bebem e se tornam agressivas, e nem todas as pessoas que são agressivas bebem. No entanto, a bebida pode reduzir o limite de um indivíduo e torná-lo mais violento. Para pessoas com tendência a agressividade ou “maldade”, Quigley diz que é importante que elas bebam menos ou parem de ingerir bebida alcoólica.
“Como o artigo demonstrou, mesmo uma pequena dose de álcool pode promover agressão em uma situação e as pessoas ficam propensas a isso”, disse. “Então a segunda recomendação é se você está bebendo e se encontra em uma situação que pode fazê-lo agir agressivamente, é melhor sair daí.”
Como já demonstrado, o álcool nos causa uma certa fixação em indícios imediatos do ambiente, então se estes indícios promovem paz, felicidade ou comportamento não agressivo, nós não devemos agir com agressividade.
“Para evitar a agressividade enquanto se bebe, prefira estar em um ambiente em que não haverá instigação a qualquer tipo de agressão”, disse Quigley. “Alguém que já teve problemas com intoxicação e planeja continuar a beber pode precisar estar em diferentes locais ou com diferentes pessoas para evitar conflito.”
Entendeu? Por favor, então beba com responsabilidade, escolha bem seus amigos e o ambiente, e tenha consciência se você tem tendência a agressividade.
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Imagem do topo: Getty Images