Atraso na legislação de drones freia atuação do setor no Brasil
Segundo empresas do ramo, falta de regulamentação cria cenário de incerteza e deixa venda de serviços envolvendo drones em um vácuo jurídico.
O mercado brasileiro de drones deve movimentar R$ 200 milhões em 2016, segundo estimativa da . E segue sem legislação específica. Após uma consulta pública encerrada em novembro do ano passado, a Anac prometeu que as regras entrariam em vigor nas Olimpíadas, encerradas no último dia 21. Bom, vieram os jogos, o Phelps e o Bolt rapelaram os ouros, o Lochte ficou doidão no posto e nada de regras para drones no Brasil. A Agência Nacional de Aviação Civil não cumpriu a promessa, deixando o setor na mão.
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Quando se trata de drones, vale lembrar que três entidades estabelecem regras para o seu uso no Brasil. A Anatel é responsável pelas radiofrequências, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) trata do uso do espaço aéreo e a Anac regula os aparelhos e pilotos.
No caso da Anatel, as regras são as mesmas que as aplicadas a qualquer dispositivo, de celulares a roteadores, que utilizam frequências. É preciso que operem em frequências liberadas e, caso sejam importados, é necessário homologação. Já o Decea publicou no final do ano passado uma instrução sobre a utilização do espaço aéreo por parte desses dispositivos – mas a grande preocupação do departamento são os voos perto de áreas restritas, como aeroportos, e o voo de aparelhos grandes, acima de 25 kg. Enquanto isso, a Anac não entregou o que prometia, aquilo que deveria ser o principal conjunto de regras sobre drones do país.
O uso recreativo de drones também aparece na proposta colocada em consulta pública pela Anac. As exigências são menores (não exigirá idade mínima, seguro, habilitação ou cadastro), mas ainda assim os equipamentos terão restrição de altura (120 m), distância (30m de pessoas sem anuência) e não poderá sobrevoar áreas urbanas ou povoadas, como mostra a, que funciona atualmente como uma lei para drones recreativos.
No final de julho, para a agência cobrando uma legislação. Não tiveram resposta. No começo de agosto, um já recebeu mais de mil assinaturas de profissionais do segmento.
Ao Gizmodo Brasil, a Anac disse:
“A previsão inicial era de que a norma fosse publicada até o início dos Jogos Olímpicos. Entretanto, tendo em vista a grande quantidade de contribuições recebidas durante o processo de Audiência Pública (em torno de 300 contribuições), não foi possível realizar a publicação antes do período Olímpico. A análise das contribuições foi encerrada e o regulamento está sob análise da Diretoria Colegiada. A nova previsão é de que a norma seja publicada até o final do 2º semestre deste ano.”
Essa parece ser uma desculpa já conhecida entre gente do setor. “Essas promessas são repetidas. Faz dois ou três anos que ouvimos que será no fim do semestre. A gente só não sabe qual é o semestre”, diz Flávio Lampert, presidente da Associação Brasileira de Multirrotores.
Parte do setor, porém, desconfia que a Anac resolveu atrasar a regulamentação justamente por conta das Olimpíadas.
A lógica é a seguinte: se estivesse em vigor, muitas empresas e proprietários de drones seriam capazes de atender as exigências da agência e voar durante o evento. Assim, o cenário de fiscalização ficaria mais complexo justamente em um momento muito tenso, o período dos jogos. A capacidade de fiscalização da agência é limitada (e essa é uma preocupação para cenário geral brasileiro na agência), e as forças armadas já tinham outras tantas preocupações em relação à segurança.
Mesmo assim, governo, Forças Armadas e COI não queriam esses aparelhos voando — os temores iam da segurança à violação de direitos de patrocinadores. Sem as regras da Anac, todos ficam proibidos de voar -exceto aqueles com autorização especial. A Anac parou de conceder autorizações especiais antes dos jogos começarem. Portanto, apenas um grupo bem restrito de profissionais podia voar durante os jogos. Ninguém confirma, mas o esquema deve continuar nas Paralimpíadas.