Atlas celulares mapeiam intestino, placenta e rins em detalhes inéditos

Mapeamento revela coordenadas das células nos tecidos. Objetivo é criar atlas celulares de todo o organismo
Atlas celulares mapeiam intestino, placenta e rins em detalhes inéditos
Imagem: National Cancer Institute/ Unsplash/ Reprodução

Algumas tecnologias já permitiam o mapeamento de células, mas a sofisticação das técnicas com o decorrer do tempo fizeram com que estes estudos chegassem a níveis de detalhamento antes nunca alcançados.

É o que aconteceu em três estudos publicados na revista . Eles detalham células humanas e permitem compreender melhor suas estruturas, como se organizam e o que acontece quando adoecem. Os órgãos analisados foram o intestino, a placenta e os rins.

Por meio de novas técnicas de genômica espacial, as pesquisas não apenas descrevem o corpo humano célula por célula e as especificam por tipo, como também dão as coordenadas para cada célula dentro do tecido. Elas permitem (ainda) ver em tempo real quais proteínas, DNA e RNA elas usam.

Chamados de atlas celulares, os estudos fazem parte de um consórcio chamado Human Biomolecular Atlas Program (). O programa é financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e busca mapear as células de todo o corpo humano, disponibilizando dados para outros pesquisadores. 

O que os atlas celulares trazem de novo?

Sobre o intestino, por exemplo, cientistas observaram que diferentes tipos de células formam “vizinhanças” com funções específicas. É o caso das células que revestem as paredes internas do trato digestivo e daquelas que combatem invasores indesejados. 

Essas comunidades apresentam diferenças quando saudáveis e em organismos que possuem doenças crônicas. Pessoas com sobrepeso ou obesas têm muito mais macrófagos, células imunológicas que causam inflamação, por exemplo. As “vizinhanças” celulares de pessoas com hipertensão também diferem das de indivíduos saudáveis.

Na placenta, o atlas celular identificou a comunicação entre as células maternas e fetais. Embora o feto seja um intruso do ponto de vista genético, as células do sistema imunológico materno não destroem esses invasores. 

Paradoxalmente, elas passam a favorecer o feto. Do momento em que um embrião é implantado dentro do útero, as artérias da mãe começam a se redirecionar para fornecer oxigênio e nutrientes através da placenta. 

Por fim, o mapeamento das células dos rins identificou mais de 50 tipos de células saudáveis, várias que eram desconhecidas dos cientistas. Também descobriu outros 30 tipos de células afetadas por doenças agudas e crônicas.

Os três estudos oferecem, portanto, uma nova dimensão do corpo humano, que guia a compreensão do estado de saúde e da ação de doenças. A esperança é que os atlas forneçam pistas sobre como diagnosticar e tratar distúrbios e pesquisas futuras examinarão mais tecidos, na tentativa de criar um atlas do organismo inteiro.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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