Astrônomos encontram estrelas semelhantes ao Sol que engolem planetas vizinhos
Uma em cada quatro estrelas com massa parecida com a do Sol possui um comportamento curioso: o de engolir, de tempos em tempos, os planetas vizinhos, que estão na sua órbita. A descoberta apareceu em um estudo divulgado nesta segunda-feira (30), que é assinado por uma equipe internacional de cientistas e conta, inclusive, com participação brasileira.
A pesquisa foi publicada na e envolveu pesquisadores de universidades da Austrália, Itália, Estados Unidos e Brasil — mais precisamente Jorge Meléndez, professor do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP.
Após selecionarem as duplas de estrelas irmãs, os cientistas compararam a concentração de certos elementos químicos encontrada em cada sistema. Na teoria, cada um deles, por envolverem estrelas parecidas, também precisavam ser próximos entre si quimicamente. Só que não foi o que aconteceu.
Em 33 dos 107 sistemas binários, havia irmãs que destoavam umas das outras. Em algumas, havia maior presença de elementos químicos como ferro e lítio, por exemplo. Isso deu um estalo nos pesquisadores: é possível que, nesses casos específicos, estrelas estivessem engolindo planetas vizinhos. E esse canibalismo espacial foi responsável por alterar a química dos astros.
Uma vez que um planeta chega próximo demais de uma estrela, ele pode se desintegrar e ser absorvido por ela. Assim, a região mais externa do astro recebe os fragmentos do planetinha destruído. Isso altera a química daquela estrela, fazendo com que ela não se pareça tanto com a irmã.
Mas por que saber disso é importante?
O nosso Sol, ao contrário de muitos outros astros de tamanho semelhante espalhados pela galáxia, não tem um passado canibalista. Isso, segundo os cientistas, isso indica uma arquitetura estável, que favorece o desenvolvimento de condições habitáveis.
Uma forma de procurar outros sóis parecidos com o nosso, portanto, é usar esses elementos absorvidos de outros planetas como uma pista. Um Sol que tenha o tamanho semelhante ao nosso e, ao mesmo tempo, possua os mesmos traços químicos, é uma região menos caótica — e mais promissora no quesito “chance de abrigar vida”, portanto.
Assim, da próxima vez que um exoplaneta emergir como “potencial candidato à nova Terra”, astrônomos poderão tentar descobrir se a estrela que ele orbita já foi ou não uma mastigadora de planetas. Só isso já pode ajudar a colocar o planetinha em questão no grupo de aspirantes a Terra 2.0 — ou a riscar de vez seu nome da lista.