Ampliar em 2% área protegida da Mata Atlântica preservaria cervídeos ameaçados
Altamente dependentes das florestas, visados pela caça e vitimados por ataques de cachorros domésticos e doenças do gado, os cervídeos da Mata Atlântica estão em sua maior parte vulneráveis à extinção. A boa notícia é que conservar 48.400 quilômetros quadrados (km2), ou 2% do total da área do bioma, pode ser suficiente para manter as populações das três espécies brasileiras que vivem nessas matas. Pouco menos de 50% dessas áreas já possuem alguma proteção legal.
A conclusão é de um estudo no Journal for Nature Conservation por pesquisadores brasileiros apoiados pela FAPESP.
“Essas espécies são estritamente florestais e, por isso, sua presença é um importante indicador da qualidade das florestas da Mata Atlântica. Por isso, ao conservar os cervídeos, estamos protegendo todo o ecossistema”, explica , que realizou o trabalho durante estágio de pós-doutorado no Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (Nupecce) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal, com da FAPESP. O grupo de autores, que inclui pesquisadores das universidades federais da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu, e do Paraná (UFPR), concluiu que 56,8% das áreas que deveriam ser prioritárias para preservação não estão dentro de unidades de conservação.Para chegar a esses valores, os pesquisadores mapearam todas as áreas onde o veado-mateiro (Mazama rufa), o veado-mateiro-pequeno (Mazama jucunda) e o veado-mão-curta (Mazama nana) ocorrem na Mata Atlântica, seja no Brasil, na Argentina ou no Paraguai.
Critérios
No mapeamento, foi considerada a presença de florestas e de condições bioclimáticas para a sobrevivência das espécies. Além disso, o grupo considerou a área mínima para a viabilidade de populações de cada espécie (120 km2).
Novo gênero
O grupo do Nupecce, coordenado por , professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp, em Jaboticabal, tem se dedicado nas últimas décadas a um exame aprofundado das espécies de cervídeos sul-americanos (leia mais em: ).
Como consequência, alguns grupos têm sido reclassificados, como o veado-mateiro, antes tido como apenas uma espécie (Mazama americana), mas que estudos genéticos e taxonômicos têm mostrado se tratar de um complexo que inclui, por exemplo, Mazama rufa, mencionada acima e recentemente .
Na esteira desses trabalhos, o grupo acaba de trazer de volta o gênero Subulo, originalmente descrito em 1827 e que foi posteriormente considerado sinônimo de Mazama.
Num no Journal of Mammalogy, os pesquisadores retiram o veado-catingueiro do gênero Mazama. A espécie, que vive na Caatinga, Cerrado e cerradões, agora se chama Subulo guazoubira.
No trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de dois projetos ( e ), os pesquisadores resolvem mais uma peça do complexo quebra-cabeça evolutivo dos cervídeos da América do Sul.O artigo Using niche modelling and human influence index to indicate conservation priorities for Atlantic forest deer species pode ser lido em: .
A redescrição do gênero Subulo está disponível em: .