Júpiter frequentemente é chamado de uma “estrela falha”, fazendo com que alguns futuristas imaginem que nossos descendentes possam morrer queimados em um processo planetário chamado Stellification (“estrelificação”, em tradução livre), que consiste na transformação de planetas em estrelas. Um novo estudo sugere que isso é teoricamente possível — e que nós deveríamos buscar aliens galácticos que já foram convertidos de bolas de gás gigantesca em objetos estelares.
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Em um artigo especulativo que está para ser publicado no , o físico e astrobiologista Milan M. Ćirković, do observatório astronômico de Belgrado, apresentou uma forma inteiramente nova para os cientistas procurarem por sinais de civilizações extraterrestres avançadas. Inspirado pelo trabalho do físico britânico Martyn J. Fogg e sua sugestão de que Júpiter é uma espécie de estrela pequena, Ćirković diz que nós deveríamos começar a prestar atenção em objetos que se transformaram em estrelas em outros sistemas planetários como sinais de astro-engenharia alien.
Transformando lugares inabitáveis em habitáveis
Para quem já leu o clássico de ficção científica (1982), de Arthur C. Clarke, deve conhecer o conceito de estrelificação planetária. Neste livro, o alien Monoliths transforma Júpiter em uma pequena estrela. Este processo faz com que a Europa, uma das luas de Júpiter, passe de um local congelado a uma floresta. Sete anos após este livro ter sido escrito, Martyn Fogg pegou este conceito de ficção científica e transformou em ciência. Em um artigo de 1989, , Fogg explicou como este surpreendente feito da astro-engenharia poderia ser alcançado.
Um pequeno buraco negro criado em laboratóri pode ser usado para converter um gigante gasoso em uma pequena estrela. Imagem por Interstellar
A ideia é liberar a energia gravitacional de gás gigante ao inserir um pequeno buraco negro diretamente na massa de Júpiter. Diferente da energia de fusão nuclear de nosso Sol e de outras estrelas “normais”, o pequeno buraco negro devoraria a massa de Júpiter por dentro em um processo conhecido como acréscimo, forçando a liberação de quantidades imensas de energia.
Esta energia seria absorvida e radiada repetidamente conforme deixa a superfície de Júpiter. Eventualmente, esta energia alcançaria a superfície e se espalharia através do espaço como qualquer outra iluminação estelar. Ao estrelificar Júpiter desta forma, Fogg diz que nós poderíamos transformar as Luas de Galileu em locais quentes e habitáveis. E mais: nós poderíamos construir uma espécie de pequena ao redor de Júpiter estrelificado para capturar o fluxo de energia.
Ćirković acha que Fogg estava no caminho certo, e que no futuro humanos podem ir mais além neste conceito. “Se há luas ou planetas em volta de objetos subestelares — e nós recentemente detectamos planetas em volta de anãs marrons (corpos celestes de baixa luminosidade) — eles podem possibilitar um espaço habitável e industrial”, disse Ćirković ao Gizmodo. “E como estes objetos são numerosos, eles poderiam ser excelentes estações de reabastecimento para missões interestelares.”
Anãs marrons não são planetas, nem estrelas. Talvez algumas delas são produtos de projetos avançados de astro-engenharia alien. Imagem por NASA
De fato, este conceito é tão bom, argumenta Ćirković, que nós deveríamos tomar como certo de que aliens avançados já estão embarcando nestes projetos de megaescala. Ele acredita que isso seja uma aplicação razoável do princípio copernicano, que é a ideia de que nós não somos especiais ou únicos em um largo esquema de objetos espaciais, e que as motivações aliens são provavelmente um espelho das nossas, especialmente um desejo crescente por energia, habitat, espaço, alimento, recursos materiais, entre outros.
A estrelificação é um processo perigoso
Desde que Fogg escreveu seu artigo, nós também aprendemos bastante sobre buracos negros e como eles funcionam. Embora possam parecer estranhos e incrivelmente perigosos, Ćirković especula que uma civilização pós-humana ou extraterrestre conseguirá criar pequenos buracos negros em laboratório, alimentá-los com matéria de forma controlada, e então carregá-lo seletivamente de modo que possam ser manuseados em campos elétricos grandes.
É claro, o processo de estrelificação planetária será repleto de riscos, e os riscos podem não valer a pena. Qualquer coisa relacionada a buracos negros — mesmo os pequenos — será excepcionalmente perigosa. Ćirković se preocupa que um erro, ou mesmo o manuseio por terroristas, poderia fazer com que um buraco negro caia na Terra, ou em algum outro planeta inabitável.
“Além disso, nas fases finais de estrelificação, após 100 milhões de anos, Júpiter estrelificado será extremamente brilhante e pode tornar-se muito instável”, disse. “Isso poderia arruinar o resto do Sistema Solar, ou sistemas planetários análogos para estrelificações extraterrestes.” Isso vai requerer mais intervenções de astro-engenharia. “Civilizações com tamanho avanço tecnológico devem planejar todos os tipos de contingências e coisas ruins que podem acontecer”, afirmou.
Desnecessário dizer que vai ser bem difícil detectar um planeta estrelificado. No entanto, Ćirković acredita que é possível. “A astronomia observacional tem se desenvolvido drasticamente nas últimas décadas”, disse. “Então, enquanto a estrelificação de objetos subestelares é uma tarefa difícil, pode ser que consigamos isso antes do que o esperado.”
O teste mais simples será buscar por estrelas que são muito pequenas — tanto de massa como de raio — para que elas possam soltar um certo nível de brilho ou luminosidade. Além disso, se um suspeito planeta estrelificado está em um sistema binário, e se ele está localizado com um ou mais planetas na zona habitacional de seus arredores, isso já o qualifica como um excelente candidato.
O problema, segundo Ćirković, será em discernir o que for natural de processos artificiais, além disso nós podemos nos tornar vítimas de efeitos seletivos. “Estamos tão acostumados a observar processos completamente naturais de estruturas estelares e sua evolução, que usamos luz para determinar coisas como raios, idades e massas, cujas quais nos levarão a ficarmos perdidos quando olhamos para um artefato”, disse.
Como Ćirković observa em seu novo estudo, nós já temos tecnologias telescópicas necessárias para a busca, então podemos começar a qualquer momento. O maior obstáculo é a potencial falta de interesse. Porém, ele diz que o estudo pode ser encorajado pela recente tendência na busca por megaestruturas aliens, como as Esferas de Dyson.
Porém, como a intrigante e misteriosa estrela KIC 8462852 está revelando — e como o próprio Ćirković admite — será muito difícil provar que objetos estelares anômalos são a representação de uma civilização alien avançada. No entanto, com o desenvolvimento das tecnologias telescópicas e com a melhoria no entendimento do que nós estamos observando, nós podemos finalmente observar extraterrestres trabalhando.
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