Os dados mostram que os líquens expostos a maiores quantidades do herbicida têm mais células mortas. Em algumas espécies, a concentração de clorofila e a absorção da luz usada na fotossíntese também diminui. O estudo foi realizado a partir da coleta de duas espécies de liquens presentes em uma APP no município de Caiapônia, em Goiás, após serem retirados de troncos de árvores. A amostra foi analisada em laboratório do IFGoiano para investigar seu comportamento em diferentes concentrações e tempos de exposição ao glifosato.
Ao ser pulverizado sobre a plantação, o glifosato é carregado por correntes aéreas. E como os liquens são sensíveis à presença do herbicida, quando pulverizados, podem bioindicar a presença do poluente no ar, mesmo não estando expostos diretamente ao produto aplicado sobre áreas de produção agrícola. Segundo Luciana Vitorino, autora do estudo, a propagação não intencional do produto é o foco da investigação. “Nós queríamos avaliar o potencial destes líquens como bioindicadores da dispersão desse herbicida a partir de áreas agrícolas, impactando todas as comunidades residentes em áreas de vegetação nativa inseridas nas regiões agrícolas”, afirma a pesquisadora.
Outros estudos na área apontam que o consumo de glifosato causa vários problemas de saúde, incluindo câncer em seres humanos, que podem consumir o herbicida indiretamente por meio de alimentos contaminados. “O glifosato passou a ser tão comum nas práticas agrícolas que vários países europeus estão estudando banir sua utilização nos próximos anos dada a sua toxicidade”, explica Vitorino.
Os autores esperam que outros estudos consigam identificar a presença do herbicida em áreas urbanas e comunidades próximas de APP, locais em que a aplicação do produto não é esperada. Isso é importante considerando os danos que o herbicida causa em seres humanos e organismos vivos. Mais análises sobre os efeitos do produto também podem identificar como outras espécies de líquens respondem ao glifosato e de que forma podem ser ameaçadas conforme a agricultura avança sobre áreas naturais.