O primeiro registro sobre a Cassini aqui no Gizmodo Brasil data de novembro de 2008. Desde então, passamos quase nove anos trazendo as últimas informações que vinham lá do sistema saturniano sobre as aventuras da intrépida sonda que tanto enriqueceu nosso conhecimento sobre o gigante de gás situado a 1,4 bilhão de quilômetros da Terra. Nesta sexta-feira, a Cassini mergulhou de vez na atmosfera de Saturno, cortando todos os sinais de contato com a NASA e oficialmente dando adeus depois de uma jornada de 20 anos. A espaçonave ganhou ainda mais espaço nos últimos meses, enquanto realizava seus últimos mergulhos entre os anéis de Saturno, e para quem não conseguiu captar nesse período a importância da sonda para a humanidade, preparamos uma rápida recapitulação da história e do significado da Cassini para a astronomia.
• A Cassini mergulhou na atmosfera de Saturno e se foi de vez
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O centro de pesquisa NASA Glenn foi o responsável por grande parte do trabalho de preparação antes do lançamento da Cassini em 15 de outubro de 1997. A equipe em Cleveland, Ohio, trabalhou por cerca de cinco anos com a indústria, a Força Aérea dos Estados Unidos e o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, desenvolvendo vários aspectos da missão: integração da espaçonave com o veículo de lançamento, projetos dos equipamentos da missão, desenvolvimento das modificações de software necessárias para a missão, incluindo as trajetórias de lançamento, além do lançamento em si, claro.
. Depois de uma queima de combustível que durou dois minutos, a Cassini foi estacionada em órbita. Cerca de 20 minutos depois, os motores de foguete RL-10 acenderam, levando a Cassini em direção à sua trajetória para Vênus, onde recebeu a primeira das assistências gravitacionais para chegar à Saturno, numa jornada de 3,37 bilhões de quilômetros até o gigante de gás.
Em 1º de julho de 2004, a , marcando o fim de sua jornada através do Sistema Solar e dando início a um período de estudo aprofundado do planeta por mais de 13 anos. O curioso é que inicialmente a espaçonave havia sido programada para ficar apenas quatro anos no sistema saturniano, mas o sucesso no período inicial levou a NASA a estender a estadia. E ainda bem que eles o fizeram.
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A Cassini carregava consigo a Huygens, sonda criada e desenvolvida pela Agência Espacial Europeia e batizada em homenagem ao astrônomo que descobrira a lua Titã, de Saturno. E foi esse o destino da Huygens, que em janeiro de 2005 pousou no satélite, fazendo daquele o primeiro e único pouso da humanidade em uma lua do Sistema Solar Externo, que compreende a área de planetas com órbita ao redor do Sol maior do que a da Terra.
Mais tarde, as luas de Saturno foram também protagonistas na história que a Cassini ajudava a escrever com todos os dados e imagens que enviava. Primeiro, com a descoberta de duas novas luas, Methone e Palene, em maio de 2004. Mais tarde, com seu primeiro sobrevoo em uma das luas, no caso a Febe, chegando a dois mil quilômetros de distância do satélite. Um número bastante impressionante considerando que a sonda anterior, a Voyager 2, havia chegado apenas a 2,2 milhões de quilômetros de distância da mesma lua em 1981.
Foi em 2006, no entanto, que veio uma descoberta que abriria todo um novo caminho: em março daquele ano, os cientistas da Cassini anunciaram ter encontrado evidência de reservas de água líquida na lua Encélado. Mais tarde, em agosto daquele mesmo ano, dezenas de lagos foram avistados na lua Titã. Esta voltaria a ter bastante destaque em 2016, com a descoberta de um grande oceano de metano, que, embora na Terra seja um gás, nas condições da lua saturniana transforma-se em líquido. Pesquisas mais aprofundadas na Titã apontaram, já neste ano, uma abundância de cianeto de vinilo na atmosfera da lua, o que poderia, em teoria, propiciar a presença de diversas pequenas membranas celulares nos mares do satélite saturniano, com concentrações semelhantes às das bactérias nos oceanos da Terra.
Também em 2017, aumentando ainda mais a empolgação em torno desses mundos oceânicos revelados pela Cassini, cientistas confirmaram a existência de uma fonte de energia química imersa na água da lua Encélado que seria capaz de sustentar organismos vivos aqui na Terra. Segundo a descoberta, havia hidrogênio molecular sendo produzido no oceano da lua, e a origem mais plausível apresentada para o elemento foram as reações hidrotérmicas entre rochas quentes e a água do oceano submerso da Encélado. Com tantos pontos como água aquecida, moléculas orgânicas, minerais e mais essa fonte de energia acessível, Encélado foi tratada em abril deste ano como o melhor lugar do espaço para se procurar por vida alienígena.
Apesar das missões Voyager 1 e 2 terem trazido informações sobre Saturno e seu sistema, o que a Cassini fez vai muito além. Ela transformou completamente nossa compreensão sobre o sistema saturniano, além de apresentar em Titã e Encélado duas das mais empolgantes candidatas a abrigar vida no espaço. Graças a ela, cientistas já discutem missões futuras para Saturno, dessa vez com propostas diretas de procurar por vida nesses dois mundos oceânicos, com equipamentos de monitoramento. Foram apresentadas duas propostas para isso, uma delas a da missão , que passará pelo primeiro crivo em dezembro deste ano, sabendo se o projeto poderá prosseguir seu desenvolvimento e aprofundar o plano de missão. A ELF compete com mais outras 11 missões, metade das quais também pretende voltar a Saturno.
O tempo da Cassini no sistema saturniano foi precioso, e os resultados, enriquecedores. Em números, foram mais de 635 GB de dados, oito novas confirmações de luas descobertas e quase quatro mil artigos científicos feitos a partir das informações coletadas pela sonda. Além, é claro, de uma enxurrada de imagens: mais de 453 mil, para ser ligeiramente mais específico. Algumas das quais nos encantaram nos últimos tempos – e que você pode ver na galeria abaixo.
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Todas as imagens: NASA