10 momentos do gigante do jazz Wayne Shorter (1933-2023)
O saxofonista Wayne Shorter foi uma das grandes figuras do jazz na segunda metade do século 20. Além de instrumentista brilhante, era um compositor de muitos recursos, tanto para sua carreira solo como para as bandas que integrou. Shorter morreu nesta quinta-feira, 2 de março, em Los Angeles aos 89 anos.
Shorter já disse a que veio logo cedo. Em 1959, lançou seu primeiro LP (“Introducing Wayne Shorter”) e entrou para The Jazz Messengers do baterista e líder Art Blakey, uma das bandas de melhor reputação da época. Ser empregado por Blakey não era fácil.
Em 1964, pouco depois de sair dos Messengers, Shorter gravou ótimos LPs solo pela gravadora Blue Note (que lançou o material aos poucos em alguns anos) e ingressou no novo quinteto do trompetista Miles Davis.
Nos anos 1950, Miles teve seu “Primeiro Grande Quinteto”, tendo no saxofone um gênio como ele, John Coltrane. Essa banda se desmanchou em 1960.
Miles demorou quatro anos para acertar uma nova formação, com Shorter, o pianista Herbie Hancock, o contrabaixista Ron Carter e o ainda adolescente baterista Tony Williams. Só monstros. Entraram para a história como o “Segundo Grande Quinteto”.
Shorter foi fundamental para isso. Fez muitas composições que colocavam seu sax e o trompete de Miles tocando o tema em uníssono, para depois cada um fazer seu solo.
O Segundo Quinteto também representou o rompimento de Miles Davis com o jazz “saudosista”, buscando elementos mais modernos.
A busca pelo novo desembocou em 1969 na fase elétrica de Davis, com instrumentos típicos de banda de rock. Apesar de o quinteto não existir mais, Shorter participou dos álbuns de jazz-rock de Miles “In a Silent Way” e “Bitches Brew”.
Shorter se interessou por essa vertente e criou sua própria banda de fusion (o outro nome do jazz-rock). De 1971 a 1985, o Weather Report reuniu músicos excepcionais como o tecladista austríaco Joe Zawinul, o percussionista brasileiro Airto Moreira e o baixista americano Jaco Pastorius.
O Weather Report teve prestígio e sucesso comercial, algo não tão comum no jazz desde a década de 1960. Isso não impediu Shorter de participar de outros projetos, como o V.S.O.P., nada menos que os quatro membros do Segundo Grande Quinteto com Freddie Hubbard no lugar de Miles Davis.
O saxofonista se manteve ativo até 2021. Sempre que entrava em palco ou tocava para câmeras, mostrava a enormidade de seu talento. Abaixo, alguns exemplos da grande carreira de Wayne Shorter.
1- Shorter com Art Blakey & the Jazz Messengers – “No Problem” (Paris, 1959)
//www.youtube.com/watch?v=m6r0DlVvBmsUma apresentação na França no mesmo ano em que Wayne Shorter entrou para os Jazz Messengers do baterista Art Blakey. Junto dele na linha de frente, o também histórico trompetista Lee Morgan (1938-1972).
2- Mr. Chairman (1960)
Faixa do segundo álbum solo de Wayne Shorter, “Second Genesis”, aqui numa versão remasterizada em 2017.
3- Speak No Evil (gravada em 1964, lançada em 1966)
Música-título do sexto álbum solo de Wayne Shorter. O saxofonista gravou muitas faixas para a Blue Note em 1964. Mas esta faixa ficou dois anos na gaveta até chegar às lojas. No acompanhamento, estão Herbie Hancock no piano e Ron Carter no contrabaixo, seus novos companheiros na banda de Miles Davis.
4- Shorter no Miles Davis Quintet – Autumn Leaves (Milão, 1964)
Um show na Itália no primeiro ano do Segundo Grande Quinteto de Miles Davis.
5- “On Green Dolphin Street” (Molde Jazz Festival, Noruega, 1966)
Uma escapadinha de Wayne Shorter do grupo de Miles Davis para um show solo num festival da Noruega, acompanhado por três músicos locais. As imagens são colorizadas.
6- Shorter no Miles Davis Quintet – “Gingerbread Boy” (Alemanha, 1967)
A banda em plena forma, afiadíssima numa apresentação na Alemanha Ocidental em novembro de 1967. É cover de uma composição do saxofonista Jimmy Heath e a gravação de estúdio do quinteto está no álbum “Miles Smiles”, lançado em fevereiro daquele ano.
7- Wayne Shorter feat. Milton Nascimento – Ponta de Areia (1974)
O saxofonista era apaixonado pela música brasileira e se encantou com a voz de Milton Nascimento a ponto de gravar em 1974 um álbum inteiro com ele (“Native Dancer”, lançado em janeiro de 1975). Cinco das nove faixas são composições de Milton, três de Shorter e uma de Herbie Hancock, que dividiu os teclados no LP com o brasileiro Wagner Tiso. Você pode ouvir a versão . Spoiler: vale a pena.
8- Shorter com o Weather Report – “Birdland” (Offenbach, 1978)
O maior sucesso da banda de jazz-rock Weather Report que Shorter montou em 1971. O vídeo é de uma apresentação na Alemanha Ocidental em setembro de 1978. Esta composição do tecladista Joe Zawinul foi a de abertura do álbum “Heavy Weather”, de 1977, que chegou ao 30º lugar da para a Billboard – uma façanha para um disco de jazz. O tema da música serviu de fundo para muitos programas de TV e rádio no Brasil. para assistir.
9- “Bachianas Brasileiras No. 5” (2003)
Outro mergulho de Wayne na fonte brasileira. Em seu álbum “Alegría” (com acento no “i” mesmo), ele faz sua versão de uma das “Bachianas Brasileiras” do mítico compositor clássico carioca Heitor Villa-Lobos (1887-1959).
10- Wayne Shorter and Esperanza Spalding – “Footprints” (2013)
Em um programa da TV americana, uma singela e bonita versão de Shorter, acompanhado pela contrabaixista Esperanza Spalding, para sua composição de maior prestígio. Clássico do jazz moderno, “Footprints” foi gravada em 1966 para o álbum solo “Adam’s Apple” e também para “Miles Smiles”, do Miles Davis Quintet.