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10 momentos de Lou Reed nos 10 anos de sua morte

Há exatos 10 anos, morria um dos percursores do rock mundial. Relembre a discografia do artista nesta nova coluna exclusiva de Marcelo Orozco para o Giz Brasil
Imagem: Reprodução
A morte de Lou Reed completa dez anos neste 27 de outubro. Um dos maiores criadores do rock padeceu por problemas decorrentes do fígado (ele sobreviveu por seis meses com um órgão transplantado em cirurgia de emergência) aos 71 anos em sua casa em Long Island, Nova York.

Lou Reed foi múltiplo em sua carreira. Seu amor às palavras e à observação de personagens rendeu letras de qualidade que fugiam ao lugar comum. Ele aspirava ser uma espécie de Dostoiévski do rock.

“Não existe razão para buscar coisas autobiográficas em mim porque sou um escritor e um músico”, disse Reed numa entrevista em 1989 e reproduzida logo na abertura do prefácio da nova biografia “Lou Reed: The King of New York”, de Will Hermes, que vem sendo elogiada pela mídia especializada americana como o mais completo e abrangente livro sobre o artista. Melhor mesmo que ele não fosse autobiográfico e confessional. Vários relatos nos livros sobre Reed formam o retrato de uma pessoa insuportável, ranzinza, traíra, sem paciência, rude, cruel e outros adjetivos desabonadores. Felizmente, sua obra é maior e melhor que isso. As letras narrativas (cantadas com o típico jeito quase falado de Lou) se sustentavam com o amor ao som da guitarra e ao rock de apenas dois, três ou quatro acordes. Simplicidade que rendia composições que pareciam bem mais complexas.

Outra paixão era a guitarra cheia de distorção, causando ruídos ensurdecedores e fora de controle com sua banda The Velvet Underground nos anos 1960 ou obtendo um controle de volume e tom controlado em sua carreira solo a partir dos anos 1980. Ao mesmo tempo, era capaz de compor canções doces e delicadas como “Sunday Morning” (cuja letra na verdade trata de paranoia…), “Femme Fatale”, “Who Loves the Sun” ou “Perfect Day”, entre muitas outras. Outro fator de impacto de Lou era o visual. O uso de jaqueta de couro preto (com jeans ou calça igualmente de couro preto) foi sua marca registrada. Mas houve a fase andrógina e a de réptil à beira da morte por inanição nos anos 1970, igualmente marcantes. Além do aspecto professoral, com direito a óculos, da fase madura.

A soma de letras sem clichês e com temas tortos, som, ruído e doçura, e looks foi muito influente na história do rock. O Velvet Underground vendeu um pequeno punhadinho de LPs enquanto existiu entre 1965 e 1970 (houve um apêndice do grupo que foi liderado pelo baixista não-fundador Doug Yule até 1973, mas essa fase merece ser solenemente ignorada). Mas acabou sendo muito influente nos anos seguintes. David Bowie, nos anos 1970, foi o primeiro a explicitar a influência de Reed. Depois vieram os punks, os pós-punks e, desde os anos 1980, uma enorme quantidade de bandas e artistas solo do rock alternativo exercitam as lições que aprenderam com o Velvet Underground e com Lou Reed. Neste décimo ano sem Lou, eis alguns momentos curiosos disponíveis no YouTube.

1- The Velvet Underground – “Heroin”

A banda de Reed foi pouquíssimo registrada em filme ou vídeo. O documentário “The Velvet Underground”, lançado em 2021 na plataforma Apple TV+, é praticamente um milagre de edição. A inexistência de shows inteiros ou clipes é de se lamentar, mas felizmente há os registros filmados pelo artista plástico Andy Warhol. Fundado em Nova York em 1965, o Velvet Underground foi apadrinhado pelo já famoso Warhol no fim daquele mesmo ano. Ele pretendia manter o grupo como o elemento musical de seu mundo de pop-art. Em 1966, Warhol fez “A Symphony of Sound”, um de seus vários “filmes instantâneos”, aproveitando um ensaio da banda (com a agregada cantora/modelo alemã Nico) no Factory, o enorme estúdio de arte e performances do artista plástico em Nova York. O álbum de estreia do Velvet já estava prontinho e engavetado na gravadora. Só sairia em 1967. Uma das músicas de maior impacto era “Heroin”, em que Reed encarna um viciado em heroína sem melodramas nem arrependimentos. Uma canção que representava para o rock o mesmo que o livro “Junky”, do escritor beat William Burroughs. Para quem tiver uma horinha disponível, abaixo está o filme “A Symphony of Sound” inteiro.

2 – Lou Reed – “Sweet Jane” (ao vivo no Olympia, Paris, 1974)

Depois do sucesso enorme do LP “Transformer”, de 1972 (que tinha os clássicos “Walk on the Wild Side” e “Vicious”), um Lou Reed loiro platinado viveu sua fase “Rock & Roll Animal”, acompanhado por uma banda mais puxada para o hard rock. Aqui ele revisita uma de suas composições favoritas, que fez parte do quarto e último álbum do Velvet Underground, “Loaded” (1970).

3- Lou Reed – “Metal Machine Music (Official Audio Excerpt)”

Pode ter sido consequência de excesso de drogas e álcool (lembre-se: ele morreu por causa do fígado) ou apenas um exercício do humor perverso de Lou. Mas o álbum duplo “Metal Machine Music” entrou para a história do rock como o mais inaudível de todos os tempos. E, diz a lenda, recordista de devoluções quando foi lançado em 1975. Eram apenas quatro faixas, uma por lado de LP, que traziam apenas microfonias e variações de frequência da guitarra amplificada de Reed. Nenhum ritmo, nenhum acompanhamento, nenhuma nota tocada, nada de vocais. Só ruído eletrônico. Como Lou ainda estava vendendo bem com seus LPs anteriores, a gravadora RCA embarcou na aventura e até lançou a obra em seu selo de música clássica. Alguns fãs extremados juram que o álbum é bom, apenas mal compreendido. O clipe acima é apenas uma breve amostra para você saber de que se trata.

5- Lou Reed – “Street Hassle” (Ao vivo em Florença, 1980)

Numa apresentação na Itália em junho de 1980, Lou traz a música-título de seu álbum lançado dois anos antes. Uma composição em três “movimentos” – ou “capítulos”, como é mais adequado ao artista. A versão original do LP tinha participação de Bruce Springsteen recitando um trecho da história.

6- Lou Reed – “Women (Official Video)”

A “Era MTV” que começou em 1981 praticamente obrigou todos os artistas pop a fazer videoclipes para se destacar no canal de TV especializado em música. Lou entrou na brincadeira com este clipe de “Women”, uma das faixas mais domesticadas de seu brutal álbum “The Blue Mask”, de 1982. Na letra, o homem que teve uma união estável com uma mulher trans nos anos 1970 declara seu amor às mulheres, inspirado pela então esposa Silvia Morales, nascida mulher mesmo.

8- Lou Reed – “Walk on the Wild Side” (Ao vivo no The Bottom Line, Nova York, 1983)

O vídeo “A Night with Lou Reed” traz uma apresentação completa de Reed na casa de shows The Bottom Line, em Nova York, em 1983. Nesta fase, ele havia retomado o formato de quarteto com duas guitarras, baixo e bateria que fez a glória do Velvet Underground. Aqui temos Lou cantando seu maior hit “Walk on the Wild Side”, grande sucesso mundial de 1972.

9- Lou Reed – “I Love You, Suzanne (Official Video)”

Reed se empolgou tanto em fazer videoclipes para a MTV que exagerou neste para a faixa do álbum “New Sensations”, de 1984. O “Lou Reed” dançarino acrobático durante o solo é tão convincente quanto os bonecos de pano que tomam tombos no lugar dos Três Patetas nas comédias toscas do trio humorístico nos anos 1930. Por associação, vale este bônus com Lou Reed fantasiado de galinha no clipe de “Modern Dance”, do álbum “Ecstasy” (2000).

10- Lou Reed – “Jealous Guy” (ao vivo, 2001)

Desde os anos 1960 até perto de morrer, Lou Reed nunca manifestou muita simpatia pelos Beatles e sua música. Então é bem curioso ver o rabugento cantando “Jealous Guy”, música de 1971 de John Lennon, no evento “Come Together: A Night for John Lennon’s Words and Music”, em outubro de 2001.

BÔNUS: “New York” (show do álbum completo, 1989)

Tem 48 minutos para ficar assistindo? Então aproveite este vídeo com o show em que Lou Reed apresenta na íntegra seu álbum “New York” com a mesma sequência de músicas do disco. Novamente com quarteto de duas guitarras, Lou teve em “New York” o mais sério candidato a melhor LP de sua carreira solo.
Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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